A desmama é um processo que, em condições naturais da criação ocorre de forma gradual e sem alterações abruptas para os leitões, com reduzida incidência de estresse devido à separação precoce da mãe e alterações do alimento e ambiente. Caracteriza-se pelo fim da secreção láctea e pelo desinteresse mútuo entre porca e leitegada.
Porém, a espera do desmame natural torna-se inviável para a lucratividade na produção de suínos, uma vez que o tempo de crescimento e terminação dos animais é fator de extrema importância no desempenho econômico da granja e apresentação do produto ao mercado.
Sendo assim, de 40 ou 50 dias de idade (desmame tardio), passou-se, gradativamente, aos 35, 28 e 21 dias (desmame precoce) e atualmente menos de 21 dias de idade (desmame super precoce).
A desmama precoce tem como vantagens o rápido retorno do cio da matriz, maior produção de leitões por fêmeas ao ano, além de menor predisposição a infecções nos leitões.
Animais desmamados muito jovens sofrem alterações precoces no sistema imunológico, pois a defesa proveniente do colostro ainda é exercida nesta fase em maior proporção do que em animais desmamados tardiamente e que já possuem melhores condições de adaptação fisiológica e física.
Segundo Ferreira e Sousa, a ativação do sistema imunológico leva à modificação na repartição dos nutrientes, principalmente energia e proteína, pelo aumento da taxa metabólica basal, com maior utilização de carboidratos.
Ainda, estudos de Teixeira (2009) indicam que um dos principais fatores de estresse causados pela desmama são aqueles de origem social, uma vez que a desmama culmina em alteração da hierarquia pela mistura de animais do lote, além da separação da mãe; processo que acarreta a ativação do sistema neuro-humoral e produção elevada de esteroides que afetam o “status” imunológico do animal, resultando em menor resistência às infecções.
Outra modificação é a do sistema digestivo, uma vez que tanto o hábito alimentar quanto o tipo de alimento são alterados. Aos 21 dias de idade o sistema digestivo do leitão encontra-se em desenvolvimento, e a lactase diminui gradativamente enquanto as outras enzimas alcançam um grau satisfatório de atividade apenas ao redor dos 42 dias de idade.
Essa condição enzimática do sistema digestivo revela que os leitões têm uma capacidade limitada para digerir amido, sacarose e gordura até os 21 dias de idade.
Tais alterações, sejam físicas (novo ambiente e indivíduos) fisiológicas (alteração da dieta) ou psicológicas (estresse emocional relacionado ao manejo) resultam em certa estagnação do crescimento durante os primeiros dias após o desmame e, por isso o técnico responsável deve prevenir uma dieta completa e adaptação do trato gastrointestinal do leitão, evitando animais refugo e até mesmo incidência de mortalidade.
Para tanto, tem-se hoje o conhecimento da importância do fornecimento de ingredientes essências, como vitaminas e minerais, assim como ingredientes específicos de alta digestibilidade, tais como o milho gelatinizado, soja extrusada, leite em pó integral, lactose, soro seco de leite e aminoácidos sintéticos (isina, metionina e treonina) são benéficos para o crescimento do leitão.
O uso de ingredientes que auxiliam o consumo e estimulam o consumo, como ácidos orgânicos, enzimas, promotores de crescimento e palatabilizantes, também são importantes e podem contribuir para a melhor adaptação dos leitões.
Em relação ao consumo nos primeiros dias após o desmame, estudos indicam que existem um efeito positivo no uso de substitutos de leite e ganho de peso, uma vez que permite o tempo necessário para o completo desenvolvimento do sistema digestivo, além de fornecer todos os nutrientes necessários sem alterações radicais no hábito alimentar.
Segundo estudos de Hauptli et al., (2005) a utilização de soro de leite em níveis de até 21% em dietas de leitões na creche melhora a conversão alimentar, além de ser viável economicamente quando comparado ao custo da ração que pode ser economizado com sua utilização.
Por fim, as granjas devem desenvolver o melhor programa de nutrição de acordo com o tipo de produção, genética da linhagem, estado sanitário geral, desenvolvimento dos leitões, fatores ambientais, instalações disponíveis e qualidade da mão-de-obra disponível (EMBRAPA).
Fontes:
- Suinocultura intensiva: produção, manejo e saúde do rebanho. Brasília: Embrapa-SPI; Concórdia: Embrapa-CNPsa, 1998. 388p.
- HAUPTLI et al. Níveis de soro de leite integral na dieta de leitões na creche. Ciência Rural, Santa Maria, v35, n.5, p.1161-1165, set-out, 2005.
- Bertol, T.M.; Santos Filho, J.I.; Bonett, L. Soro de leite integral na alimentação dos suínos. Ano IV – No 17 – Abril/1996 – Periódico técnico-informativo elaborado pela EMBRAPA–CNPSA.
- Teixeira, J.M. Comportamento e Bem-estar de leitões desmamados aos 28 dias reagrupados por sexo e provenientes de diferentes tipos de maternidade. Programa de pós-graduação de Viçosa; Minas Gerais, 2009.
- Ferreira, R.; Sousa R.. Desenvolvimento do sistema imune de Leitões e suas correlações com as Práticas de manejo. Lavras – MG. Disponível em: http://www.daneprairie.com
- Alimentação dos leitões na Creche de acordo com a idade de desmame. Instrução técnica para suinocultor. EMBRAPA.